“Daqui a uns anos olharemos para trás e pensaremos: ‘como é que era possível viver assim’?”, afirma João Ricardo Moreira, administrador da NOS Comunicações, sobre as mudanças que o 5G vai trazer ao mundo tal como o conhecemos. Mais do que uma nova geração da rede móvel, mais do que velocidade e resposta instantânea, mais do que milhões de equipamentos ligados entre si, o 5G é disrupção. Uma disrupção que se sente no primeiro dia e vai continuar a ganhar força ao longo de toda a sua evolução: as mudanças que o 5G permite na sociedade vão crescer de mês para mês, de ano para ano.
“Temos a tendência de sobrevalorizar as mudanças que podem acontecer a dois anos, mas subestimamos aquilo que pode acontecer num horizonte temporal a dez anos”, explica João Ricardo Moreira, para quem “o 5G é um salto em vários domínios e vai ter impactos fundamentais na economia e na vida das pessoas”. E esta afirmação não se trata de uma mera crença, mas antes uma certeza, assente nas características que fazem do 5G uma tecnologia verdadeiramente disruptiva.
Milhões de equipamentos ligados a toda a velocidade“Logo que o 5G esteja disponível, uma das coisas que mais se vai notar é a velocidade e a maior largura de banda, que é a capacidade de transmissão de dados de um ponto para outro. Isso faz com que, por exemplo, a qualidade de vídeo seja maior e os downloads sejam mais rápidos”, lembra João Ricardo Moreira, ao mesmo tempo que destaca também “a capacidade de gerir milhões de equipamentos num curto espaço físico”, essencial à IoT (Internet das Coisas) e à densificação de sensores que irão estar instalados em todo o lado, seja nas casas, nas empresas, nas ruas ou nos carros.
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A nossa vida será cada vez mais conveniente pelo facto de termos informação que nos é transmitida pelas coisas”.
Para o administrador da NOS, isso “só é possível na escala a que se deseja, com uma rede que possa ter essa capacidade. Só de pensarmos em automóveis que vão estar ligados [a semáforos, sinais de trânsito e outros dispositivos], rapidamente percebemos a quantidade de equipamentos que vão precisar de estar conectados à rede”. E muitas vezes, detalha João Ricardo Moreira, o benefício da conectividade é algo que nem vamos ter de procurar, mas antes que se vai traduzir na integração de informação tão simples como “receber no telemóvel a informação de qual a Loja do Cidadão com menos filas ou a sessão de cinema que está esgotada”.
5G tem resposta pronta, e seguraOutro aspeto que marca a disrupção do 5G é a latência, que significa o tempo de resposta e a interação. “Se pensarmos em toda a pressão para tomar decisões em tempo real, muitas vezes tomadas por coisas e não por pessoas, percebemos que o tempo de resposta é relevante”, explica o administrador da NOS. Mas lembra que se trata de uma resposta imediata e ‘informada’, com base “não na informação crua da realidade, mas numa informação que é processada pelos melhores algoritmos em tempo real”.
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Hoje, sem conectividade, temos a sensação de que nos falta alguma coisa fundamental, mais do que as chaves de casa ou os cartões bancários".
João Ricardo Moreira destaca ainda a resiliência e a segurança do 5G. “Cada vez mais vamos tomar decisões críticas, com riscos: condução, cirurgias à distância, manipulação de maquinaria pesada. Nestes casos, a resiliência, ou seja, a garantia de que uma rede está preparada para funcionar sem falhas, é absolutamente chave”. E mesmo ao nível da segurança e da privacidade, isso não só é cada vez mais importante, como está a ser pensado e desenvolvido, enquanto que “as tecnologias do passado não foram desenhadas para ter esses níveis de proteção”.
E todos estes atributos de velocidade, latência ou segurança - que vão proporcionar novas aplicações mais rapidamente que no passado -, não vão ser estanques. “Há ganhos adicionais que se perspetivam. Acrescentar mais largura de banda ou minimizar o tempo de resposta, por exemplo”, avança João Ricardo Moreira.
Disrupção que chega pelas empresasOutras gerações estavam muito voltadas para o utilizador, já o 5G “vai começar mais do lado das empresas”, destaca o responsável da NOS, “muitos dos benefícios para os consumidores virão de serviços disponibilizados por empresas e serviços públicos”. São essas empresas e entidades que vão criar novas aplicações e disponibilizá-las: “Imagine, numa loja de roupa, poder ver, através de Realidade Aumentada, como uma determinada peça lhe fica. É o consumidor, está a ter a experiência, mas precisa que seja essa empresa retalhista a produzir esse novo serviço”. Há uma oportunidade comercial, “de relação das marcas com os consumidores que é um mundo de oportunidades, e que só o 5G pode suportar de forma conveniente”, e que é particularmente importante no momento que o mundo atravessa.
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Imagine, numa loja de roupa, poder ver, através de Realidade Aumentada, como uma determinada peça lhe fica".
A Realidade Aumentada vai ser altamente potenciada pelo 5G, tanto para consumidores particulares, nas lojas ou no entretenimento, como para empresas. Vamos poder andar pela rua, apontar o telemóvel a um edifício ou monumento, e receber toda a informação sobre o mesmo. “Estamos habituados a ver a realidade através dos nossos olhos”, exemplifica João Ricardo Moreira, “agora temos uma ‘lente’, sejam óculos, um telemóvel ou outro equipamento, que nos permite acrescentar informação a isso. É como se as coisas começassem a falar”. Não se pode dizer que é o 5G a trazer a Realidade Aumentada, mas pela combinação entre a capacidade de processamento de informação e o tempo de resposta rápido, é a única tecnologia que permite que o serviço seja tão valorizado.
Daí as aplicações e os benefícios que vão começar a surgir para as empresas e para a indústria. A capacidade de, por exemplo, com acesso a informação em tempo real e em realidade aumentada, poder fazer manutenção numa máquina complexa, com precisão e sem a necessidade de um técnico muito especializado por perto.
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A Realidade Aumentada permite-nos olhar para o motor de um avião e perceber o que lá está. A partir de uma imagem real de um objeto ou de um lugar, são acrescentadas camadas de informação. É o 5G que permite que todo esse conhecimento seja disponibilizado em tempo real”.
A rede que é um puzzle sempre a mudarO administrador da NOS vê a rede 5G como um puzzle, um conjunto de peças que os operadores de telecomunicações vão encaixar para garantir as necessidades de cada local. “É possível chegar ao detalhe de dizer: ‘para esta fábrica vamos conseguir ter uma configuração específica de serviços dedicados' e isso é orientado de facto para aquele cliente empresarial específico”.
Até agora, todos os utilizadores tinham acesso à mesma rede, mas a personalização passa a ser muito maior: “O 5G tem a missão de servir também propósitos específicos, em paralelo e sem depender do alargamento gradual da cobertura. A cobertura nacional 5G é um puzzle em que as peças não são todas iguais. Em função do território, do tipo de utilização que se imagina ter, encaixam-se pela conjunção dessas frequências”. Para João Ricardo Moreira, “a capacidade de fazer essas fatias de rede, orientadas a utilizações diferentes é uma das valências que o 5G traz e que lhe permite ser chamada de rede das redes.