Deloitte prevê enorme impacto do 5G nas empresas portuguesas

Deloitte prevê enorme impacto do 5G nas empresas portuguesas
15
jun
2021
INSIGHT
NOS
4 minutos de leitura
Atualizado a
23 jan 2023

A consultora estima um crescimento de 17 mil milhões na economia portuguesa pelo 5G, até 2035.

Pedro Tavares, Partner e Líder de TMT (Technology, Media & Telecom) da Deloitte Portugal, afirma que “o tecido empresarial português espera benefícios grandes do 5G, palpáveis, aguarda pelo 5G para perceber como é que pode vir a revolucionar ou a transformar o seu negócio”. Para Pedro Tavares, as oportunidades são reais e vão chegar a todo o tipo de empresas: “Nas indústrias de consumo, na indústria pesada, na logística, banca e seguros. Mas também nas cidades. São áreas onde esperamos um fortíssimo impacto". Segundo um estudo recente da Deloitte, o impacto na economia portuguesa vai ser tremendo: 17 mil milhões de euros do crescimento económico em Portugal, até 2035, vão dever-se às inovações introduzidas pela rede 5G.

A transformação do 5G vai impactar todas as empresas, e nem são as mais digitalizadas que vão notar mais a diferença, mas sim todas as outras de sectores produtivos ainda afastados da tecnologia. “Se pensarmos naquelas empresas que não estão digitalizadas, ou ainda com maturidade reduzida nessa matéria, o 5G será um salto transformacional gigantesco, é como não ter nada e passar a ter muito”, lembra Pedro Tavares. Dá como exemplo a agricultura, onde “vamos ter os famosos drones a voar sobre as culturas e a perceber onde estão os focos de infeção, qual o nível de maturidade das colheitas. É absolutamente transformacional, trará benefícios gigantescos”.

O 5G vai representar 17 mil milhões de euros em crescimento da economia portuguesa até 2035", segundo previsões da Deloitte

A Deloitte tem notado já o interesse na nova rede, vindo precisamente desses sectores “muito clássicos, negócios ancestrais, negócios dos vinhos, da agricultura”, indica Pedro Tavares, “a aproximação que nos fazem é gigantesca, é diária, é bastante intensa. Expliquem-nos o que é o 5G, na ótica do meu negócio, não quero saber muito de tecnologia, mas quero saber o que é que esta tecnologia me pode agregar, a mim e ao meu negócio”.

 

Transformação das indústrias

As oportunidades de negócio com o 5G vão passar muito pela melhoria das operações empresariais. “Vamos ter a capacidade de tornar os processos, nomeadamente os fabris, muito mais eficientes”, reforça o partner da Deloitte. Pedro Tavares antecipa que “não significa diminuir força de trabalho”, mas sim colocar “a mesma força de trabalho”, graças a nova tecnologia, comunicações e sensorização em fábrica, “a produzir muito mais. É aí que o homem se vai aliar à tecnologia, em prol da eficiência fabril”.

Pedro Tavares destaca que não se trata de “diminuir força de trabalho” numa fábrica com o 5G, mas sim “colocar a mesma força de trabalho a produzir muito mais”

Pedro Tavares não espera uma redução de custos para as empresas em termos de comunicações, mas um grande benefício associado a esse serviço. “Os ganhos económicos, na nossa perspetiva, far-se-ão naturalmente pela redução de custos, mas não nominalmente”, explica o responsável pelo Centro de Excelência de Engenharia de Telecomunicações da Deloitte, que espera “uma melhor utilização do dinheiro que hoje as empresas pagam por um serviço de telecomunicações”.

O partner da Deloitte também prevê grandes mudanças nestes tempos de pós-pandemia, nomeadamente ao nível do teletrabalho, pois “não vamos ter, nunca mais, uma situação em que todos os trabalhadores estão em escritório”. Acredita que o que se segue é o “trabalho híbrido”, e que as pessoas “querem estar em casa, querem estar no escritório, querem estar em outro qualquer local”. Nesse contexto, com o 5G, “as condições com que executamos o teletrabalho serão fortemente incrementadas”, desde logo pela “imersão 3D, onde as videoconferências serão feitas em 5G. Poderão ter três dimensões e não as duas a que estamos habituados”.

 

Gaming e trading a crescer com o 5G

Vários países já disponibilizaram a rede 5G e a Deloitte tem acompanhado as mudanças, as tendências e os efeitos da tecnologia nas empresas e nos negócios. Segundo o partner da consultora, notam-se desde logo “impactos ao nível do tráfego”, que tem vindo a aumentar graças a novos serviços. Dá como exemplos a Coreia do Sul e a Austrália, onde “cerca de 20% do tráfego 5G é referente a novos serviços, serviços que nós hoje não temos no mundo móvel, só no fixo”.

Na Coreia do Sul e na Austrália, “cerca de 20% do tráfego 5G é referente a novos serviços”, avança o partner da Deloitte.

Esses serviços passam muito pelo gaming, “que já conseguimos fazer num smartphone, mas a qualidade daquilo que temos e a nossa experiência não é satisfatória”, refere Pedro Tavares. E também pelo trading, a “compra e venda de ações em bolsa, em que a experiência móvel não é de facto boa e podemos dar uma ordem de transação e essa ordem atrasar-se o suficiente para nós perdermos dinheiro”. Isso já não acontece com o 5G, “porque a latência é um fator que foi fortemente melhorado nesta tecnologia”.

Tanto as expectativas da tecnologia como os resultados de outros países levam Pedro Tavares a concluir que “os novos consumidores de 5G estão disponíveis para pagar um premium, um valor adicional, para poder usufruir de, não só maior largura de banda, maior velocidade, mas também de serviços de muito baixa latência, coisa que não temos no 4G”. Algo que se vai notar tanto nos consumidores finais como nas empresas que podem aparecer: “Todos esses serviços novos trarão novos negócios, novas empresas que irão surgir”.

O que falta mesmo é a tecnologia surgir, a rede 5G ser disponibilizada em Portugal, até porque as operadoras já investiram muito na quinta geração móvel e a sociedade e as empresas poderiam estar já a colher os benefícios. Pedro Tavares deixa o aviso: “Creio que estamos numa situação limite, decisões maiores terão que ser tomadas, pelo risco iminente de sermos dos últimos da Europa, e mesmo à escala mundial, a ter o 5G e poder usufruir desta tecnologia”.